Maria Berenice Dias[1]
Quando se fala no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – duvido que alguém não tenha ouvido a célebre pergunta: por que um dia para as mulheres? Não há um dia para os homens! Ou ainda, é dito, de forma jocosa que o dia das mulheres são todos os dias; que as mulheres estão invadindo todos espaços e ocupando os lugares masculinos.
De fato, até a bem pouco tempo atrás ninguém sabia que havia um dia no calendário dedicado à mulher. Era uma data que passava despercebida. Afinal, a palavra feminismo era quase um palavrão e nenhuma mulher tinha coragem de se identificar como feminista, sinônimo de mulher feia, mal amada, que ninguém quis, que tem raiva dos homens ou é lésbica.
Claro que as mulheres já vêm conquistando o espaço público e estão conseguindo se inserir no mercado de trabalho. Mas, ainda que tenham um grau de escolaridade superior, recebem remuneração inferior e é difícil o acesso aos postos de poder. Também na política a chamada ‘bancada do baton’ é praticamente nula.
Para obter aceitação a tendência da mulher é copiar o modelo masculino. Ao ocultar suas características femininas, acaba condenada à invisibilidade. Assim, a presença das mulheres não significa aceitação das qualidades que lhes são próprias. O molde ainda é o masculino, e a mulher precisa acomodar-se nele.
Apesar desses ‘avanços’, no reduto doméstico, a relação permanece verticalizada. Os homens não se sentem compromissados com o que diz respeito ao lar. No máximo se dispõem a prestar alguma ajuda, o que significa mera colaboração para o desempenho de atividade que não é sua, é de outrem. Não tem consciência de que as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos são encargos comuns do par. Mas para isso é preciso que as mulheres deixem os homens fazerem o seu papel sem ter medo de perderem seu reinado. Aliás, essa é a grande queixa dos maridos e companheiros: não colaboram com a casa, não cuidam dos filhos, porque as mulheres não deixam, acham que eles não sabem fazer nada. Pudera, as mães nunca permitiram aos filhos brincar de boneca, entrar na cozinha, ou fazer qualquer outra atividade que pudesse comprometer sua virilidade. No fundo, é o velho temor à homossexualidade que torna os homens com tão poucas habilidades para as coisas tidas como femininas.
Assim, acabam as mulheres sujeitando-se à famosa dupla ou tripla jornada de trabalho. Mas a solução está em nossas mãos. Não basta só a mulher mudar, é preciso mudar a forma de educar os filhos. Eles serão os maridos e os pais de amanhã e só serão participativos se lhes ensinarmos que homem chora; que carência afetiva não é sinal de fraqueza; que cuidar de filhos, arrumar a casa, pregar botão, não diminui ninguém. Ao contrário, são atividades absolutamente prazerosas, nada mais do que manifestação de afetos.
Por isso é necessário lembrar o dia da mulher, para não esquecer que há um longo caminho a percorrer: o da cumplicidade.
Publicado em 08/03/2007.
[1] Desembargadora do Tribunal de Justiça do RS